AUTOR: IVO MARTINS
EDIÇÃO: Revista Op. #24 DATA: Outubro de 2007
George Steiner
O Silêncio dos Livros seguido de Esse Vício Ainda Impune de Michel Crépu, Gradiva, 2007
A leitura ocorre na solidão, nesse espaço no qual se detém a pessoa que lê e onde esta começa a delinear
percursos para as suas ideias. Do mesmo modo que a actividade do agir levada a efeito, traduz uma procura do
local de actuação que requer a companhia dos outros, a actividade de ler interrompe todo este processo de
localização porque quando o indivíduo inicia as suas deambulações pelos livros passa a estar a sozinho. O acto de
ler é uma actividade solitária, um colocar-se à parte que significa silêncio e indagação de responsabilidade,
prestando atenção às vozes dos que vivem, dos que já não vivem e dos que ainda não vivem. Os leitores tornam-se
invisíveis, afastam-se tanto quanto possível da evidência pública, agindo sobre uma lei cujo autor é cada um de
nós. Todas as atitudes suscitadas pelo contacto com os livros, pressupõem um estado de recusa exterior e
declarada sobre o que nos pode determinar, uma negação ao poder de assimilação do grupo dominante. As
burocracias surgidas da imposição do colectivo sobre o indivíduo possuem um grau apurado de impessoalidade
que permite as mais estranhas arbitrariedades, sendo uma ameaça para a nossa liberdade. Neste sentido, a
leitura é um acto de liberdade, um desinteresse por si próprio, uma ausência de si próprio que transforma o leitor
num resistente do “estar bem”, ainda mais só no seu próprio mundo.
Manuel Castells; Narcís Serra (coord.)
Guerra e Paz no Século XXI, Uma Perspectiva Europeia, Fim de Século, 2007
Organizado a partir de um conjunto de textos de diferentes autores, tendo por tema a guerra e a paz, percebemos
que as análises efectuadas neste livro são influenciadas pelos atentados de 11 de Setembro. “Guerra e Paz no
Século XXI” representa um acumular de visões contraditórias e discordantes sobre vários problemas
relacionados com os conflitos armados que aconteceram depois dessa data e têm influenciado todo o mundo.
Sabemos como todos os interesses de controlo do poder se movem desde aqueles trágicos acontecimentos de 2001
em Nova Iorque , modificando permanentemente as ideias sobre como impedi-los. Se nalgumas situações
podemos ser razoavelmente optimistas, noutras o pessimismo parece ter-nos tomado de assalto, todas as
pequenas esperanças encontram-se entrincheiradas pela insegurança generalizada, sobrevivendo num regime de
opressão vigilante e no cerco policial que se invoca por razões humanitárias.
Ressaltam destas ideias algumas realidades que consideramos fundamentais na compreensão das nossas
fatalidades a curto prazo e com as quais temos de nos confrontar no futuro: globalização e terrorismo.Este livro
tenta apresentar respostas e incentiva formas de análise que expliquem todas as discordâncias e contradições que
vamos sentindo em crescente, num mundo cada vez mais ameaçado e sem grandes soluções à vista.
Ugo Volli
Fascínio - Fetichismo e outras idolatrias, Fim de Século, 2006
O homem sempre viveu rodeado de objectos e de corpos-fetiche. Se até a um certo momento da sua história a
presença destas simbologias apegadas à existência das coisas e aos corpos aos quais se associavam não assumia
uma importância por aí além, a partir de determinada altura da existência humana as energias libertadas por
estas formas de relacionamento cultural começam a ocupar um vasto espaço identificador no meio da vida das
pessoas, tornando-se objecto de muitas atenções e estudos. Tudo começa quando, algures na costa de África,
alguns comerciantes portugueses do séc. XVI, depararam com alguns objectos feitos pelas populações locais aos
quais se atribuíam poderes sobrenaturais. Este fascínio inicial nasce, portanto, do terror que eles transmitiam e
inspiravam, da fragilidade do homem perante o mundo hostil habitado por forças obscuras e incompreensíveis.
Depois desta constatação, as pessoas passaram a interessar-se pelo fenómeno, desenvolvendo as mais diversas
teorias explicativas sobre as suas origens e justificações. Tentava-se assim agir de uma forma quase arqueológica
sobre as nossas profundidades mais humanas, trazer a público as forças animais que ainda nos influenciavam e
que, depois de séculos de civilização, não conseguiram ser anuladas. Este livro conta esse trajecto que vai desde
essa fantástica descoberta até aos nossos dias. Uma estranha relação com os objectos e com os corpos que nos
tornam sujeitos únicos e imaginosos. Continuamos muito próximos desse território curioso das simbologias e das
significações puras que se expressam através de um redimensionar do uso e que actualmente ainda se encontra
muito vivo, agora no jogo contemporâneo do comportamento consumista.