AUTOR: IVO MARTINS 
EDIÇÃO: Revista Op. #22     DATA: Junho de 2007 





Adolf Loos
Ornamento e Crime, Cotovia, 2006

A arquitectura alcança, no conjunto de textos que compõem este livro, um estado de tangibilidade teórica que a
torna por vezes crítica, outras vezes puro sentir artístico. Nestas pequenas análises vivem-se momentos difíceis.
Adolf Loos perpassa uma ideia de insegurança, de receio que está latente em todas as formas de sensibilidade
revelada, nas inúmeras deambulações pela Viena do seu tempo, na mesma viagem que o século XX haveria de
percorrer. Eram tempos que indiciavam um futuro cheio de promessas redentoras e, portanto, salvíficas, para
uma humanidade que olhava a civilização ocidental de forma esperançosa. Loos analisa pedaços reiterados de
acontecimentos mundanos que fazem parte de uma imensa história de aparências. Olha-as com todas as formas
do seu pensar: desilusão, decadência, desgosto, angustia, paixão, revolta, amor… enquanto compacta ódios e
acumula tensões libidinosas. As suas dúvidas são as nossas dúvidas perante o espectáculo da vida que as
manifestações dos homens começavam a indiciar de forma insistente e obstinada. “Ornamento e Crime” refaz
com subtileza uma ideia de excesso e desperdício, uma ambiguidade que agora nos é muito mais nítida e
preocupante. São, e foram, os avisos para um século que curiosamente agora recomeça e que tem
obrigatoriamente de ser diferente, se queremos sobreviver.



Anselm Jappe
As Aventura da Mercadoria por uma Crítica do Valor, Antígona, 2006

O “fim da história” foi um tema muito falado há alguns anos atrás e que ocupou muitas das reflexões sobre o
triunfo do mercado na democracia liberal. Estavam lançadas as bases para se dar por terminada uma saga que
acompanhava o Homem desde o seu nascimento; desde momento em que pegou no primeiro objecto, aquele que
estava mais próximo de si, e o utilizou em seu próprio proveito.
Parece que se desejava pôr um final a essa história que não tinha solução, finalizar o acto que só terminaria
quando a humanidade inteira desaparecesse e, mesmo depois da sua extinção, as mercadorias, os seus
sucedâneos mais elaborados, iriam continuar a encerrar essa potência utilitária que medusa as apetências e os
desejos de possessão. Todos os objectos detêm estranhas forças que os acompanham desde sempre.
“As aventuras da Mercadoria” falam da nossa própria aventura humana. Um seguir atento sobre os
comportamentos que adoptamos quando possuídos por uma inquietude construtora que se manifesta na
elaboração e na produção de múltiplos objectos. A sua valorização será sempre uma questão determinante para o
tempo, e no contexto onde se verifica. São também os momentos como os que estão contidos nas suas
configurações que se refazem nas simbologias das imagens. As mercadorias exprimem as épocas que lhes dão
origem e ajudam a entender o seu grau de subjectividade. Revelam as tendências dos seus desvios de aplicação,
manifestam valores e dimensões de mercado, tornando-se elementos fundamentais de compreensão sobre o que
nos estimula a acumular e a deter. Racionalizar os seus processos, dar explicações sobre a sua movimentação,
não impõe a existência de limites nas suas soluções futuras, por nunca existirem meios suficientes de
compreensão calculada. A mercadoria reinventa-se e invade-nos permanentemente, nessa mutação estrutural
que dificulta todos os processos da sua apreensão racional, em tentativas teóricas que são levadas a efeito desde
que nos conhecemos.



Charles Baudelaire
A Invenção da Modernidade, Relógio d’ Água, 2006

Este livro condensa uma série de textos de pesquisa e reflexão que projectam a época e o contexto artístico, social
económico e político onde o autor desenvolveu a maior parte do seu trabalho. Toda esta antologia reúne um
conjunto de narrativas que contêm uma profunda tensão entre o pessoal e o impessoal, manifestada como prova
melancólica da própria existência de Baudelaire, conseguida através de uma escrita bastante assertiva. Sente-se,
nas palavras usadas, uma espécie de tentativa de fuga, uma escapada sempre não gorada, que se arrasta no
particular prazer de se esconder.
Amável e sombrio, cúmplice e genial são características visíveis nas suas palavras, com as quais podemos definir
este artista permanentemente recolocado, capaz de elaborar ideias simples e eficazes sobre todos elementos que o
rodeiam. Persiste, também, nesta obra uma síntese sobre a beleza, associada a um estilo de vida decadente que se
tornará moda e que se pode retirar do carácter e das qualidades criativas de Baudelaire, um homem interessado e
desinteressado em todas as manifestações artísticas do seu tempo, actuando em sentido contrário à tendência da
especialização, na busca de novas visões interpretativas que, já nessa altura, começavam a adquirir e a iniciar as
suas formas mais agudas.



Giorgio Agamben
Profanações, Cotovia, 2006

Este livro aprisiona uma espécie de viagem do autor sobre vários assuntos que o impressionam e que, talvez por
isso mesmo, o obrigam a ter de integrar os seus conteúdos numa nova dimensão. O que poderá significar a
releitura de conceitos como “paródia”, “profanação”, “magia e felicidade”, “o autor como gesto”…?
Giorgio Agamben toma estas temáticas eternas desenvolvendo novas utilidades, novos aparatos de compreensão,
perspectivando-os num olhar histórico mais amadurecido pelo tempo. São questões importantes de sobrevivência
sobre assuntos dos homens que nos fazem ainda discordar e concordar. As palavras deixam pequenos rastos,
sinais no espaço temporal e tramitações de significados cuja essência coincide com dar-se a conhecer e tornar
visível através de uma revelação. Não sabemos se todas estas inflexões resolvem os problemas que encontramos
nos nossos horizontes, catástrofes ou paraísos. Nunca sabemos bem se a vida é capaz de algum dia ultrapassar a
barreira daquilo que a faz calar ou disfarçar. Existe apenas um sentimento cinético, uma dinâmica que se revela
neste movimento incessante de procura, uma tentativa de se acharem respostas suficientes, capazes de porem um
fim a uma situação existencial dominada por um sentimento inacabado e inultrapassável, de modo que se
possam fixar como limite inevitável as aparências e as máscaras que esta assume.



Zygmunt Bauman
Amor Líquido, Relógio d’ Água, 2006

A fragilidade detém uma estranha força amestradora sobre o que se lhe opõe e manifesta no poder irracional das
colectividades. A negação das relações entre as pessoas, aparecem-nos como mecanismo de aperfeiçoamento
individual e de percepção alargada sobre uma sociedade indefesa perante a vitória dos seres solitários, os quais
souberam aprender a fazer dessa solidão um momento sublime de esperança do convívio moralmente fecundo.
Este livro convida-nos a estarmos sós, a entender que a época dos grandes desígnios colectivos está, por agora,
ultrapassada. As sociedades actuais não admitem a existência de “Terras de Ninguém”. O processo da sua
retirada, mesmo antes de as abandonar totalmente, deixando para trás essa dependência irrisória das
interacções sociais, políticas e económicas, que causaram tantos disparates e tantos actos em falso nas sociedades
do século XX, coloca questões muito sérias sobre como podemos enfrentar as pressões de todos e dos outros. É
evidente que muitos dos nossos voluntaristas mais convictos, e todos os militantes dos nossos valores mais
irrisórios, vão achar que não pode haver qualquer outro tipo de vida para além do seu constante discurso
apologético e benfazejo, com o qual preenchem os espaços de silêncio que lhes cabe. Para eles “o silêncio equivale
à exclusão” e o medo de não se sentirem acompanhados por uma voz intensa e estereofónica, causa-lhes
tremendos receios carcerários.




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