AUTOR: IVO MARTINS 
EDIÇÃO: Vienna Art Orchestra - Revista Comemorativa dos 25 Anos de Mathias Rüegg    DATA: Dezembro de 2002 





Quanto mais importância atribuímos às questões da representação na música, mais ela assume, nas nossas vidas,
uma centralidade inevitável. Podemos tentar perceber quem representa quem? Ou se será possível alguém
representar alguma coisa?

A minha geração herdou ideias pertencentes a duas ou três gerações anteriores e a representação neste sentido é
um processo de reprodução e de espelho. Começamos a sentir o perigo da cultura se transformar numa
globalidade, onde as ilusões vão sendo construídas como bens ominipresentes de consumo. É claro que todos
admitem sem ressentimentos tratar a cultura como uma questão de acessórios de moda que podem ser tirados ou
postos, mas a música dado o seu carácter abstracto acabará por ser um rumor, entre produtos de marca. A
imagem da música global flutua por cima do Planeta como se fosse uma eufórica alucinação comercial. Coca-
«jazz»-Cola, Nike, «jazz, Just Do It», McDonald's, «jazz», Happy Meal. Sabem o que é mão de obra barata
numa atmosfera de abundância?

Desejo dedicar este pequeno texto a Matthias Rüegg por nunca ter perdido o senso da espiritualidade, porque
podemos estar muito ocupados a analisar a beleza das imagens quando eram projectadas na parede e não fomos
capazes de termos dado conta que a própria parede já tinha sido vendida.



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